segunda-feira, 18 de maio de 2020

Páginas molhadas


O sexo sempre foi uma das coisas mais fascinantes para o ser humano e, ousaria dizer, continua sendo. Basta ver o quanto ainda discutimos sobre questões de gênero, por exemplo. Sendo assim, a literatura não poderia ficar de fora dessa.       Narrativas eróticas são tão antigas quanto a humanidade, mas foi o Renascimento que “descobriu” que as histórias picantes podiam se transformar em literatura. É claro que, bem antes disso, o erotismo já tinha sido tema de livros como Satíricon, de Petrônio e Decameron, de Giovanni Bocaccio, dois dos pioneiros a abordar o tema.
      John Cleland é considerado o primeiro autor a fazer um livro moderno sobre isso com Fanny Hill: memórias de uma mulher de prazer, em meados do século XVIII. A prova da perenidade do assunto é que o livro é editado até hoje.
      Claro que não faltam clássicos dos mais diversos, do Kama Sutra à Autobiografia de uma pulga (Stanilas de Rhodes), passando pelos livros de Ovídio, Sade, Restif de La Bretonne, Sacher-Masoch e outros, mas deixo aqui as minhas indicações – além de todas as já citadas -, sempre avisando que se trata de uma lista particular:
O sofá – Crébillon Fils: Neste romance no mínimo inusitado o narrador é ninguém menos do que um sofá! Com a descrição de todo tipo de encontro sexual, o livro, no entanto, pode até ser classificado como moralista. Uma de suas famosas máximas é a de que “o libertino é, antes de tudo, um impotente!” 
Sexus, Plexus e Nexus – Henry Miller: Três livros em um, todos com a marca do autor nas descrições das relações sexuais sem metáforas. Essenciais para quem quer conhecer a obra de Miller, podem ser lidos separadamente. Se assim optar, prefira os dois primeiros.
O amante de Lady Chaterlley – D. H. Lawrence: Obra clássica que rompeu com os padrões morais da época ao descrever a relação entre uma mulher nobre e um empregado em detalhes crus. Menos erótico e mais uma história de paixão e amor, o livro sempre merece uma leitura sem preconceitos. Recomendo e recomendo novamente.
A história do olho – George Bataille: Dois jovens descobrindo o sexo em suas mais variadas formas. Assim pode ser descrito este livro que, desde sua primeira publicação, em 1928, angariou a admiração de gente como Michel Foucault, Roland
Barthes, Mishima e tantos outros. Precisa dizer mais?
Delta de Vênus – Anaïs Nin: Escritas sob encomenda para um cliente chamado somente de “O colecionador”, as histórias deste volume foram feitas quase todas durante os anos 40. São relatos realistas de prostitutas e seus clientes, amantes possessivos e estranhos, tudo na prosa elegante que caracterizam a autora.
A entrega: memórias eróticas – Toni Bentley: Ancorado nas memórias da autora, o livro fala de apenas um tipo de relação sexual: a anal. Por isso, pode não agradar a todos, mas seu teor erótico é indiscutível. Recomendo.
Vox – Nicholson Baker: Basicamente uma conversa telefônica, o erotismo de Vox está na capacidade de as palavras evocarem imagens e ideias excitantes. Interessante e de leitura rápida, pode ser considerado um clássico do erotismo pós-moderno.
Amêndoa: um relato erótico – Nedjma: Às vezes delicado, outras melancólico e até brutal, este livro fala de uma relação sexual num país reconhecidamente exótico, o Marrocos. Além disso, fala sem reservas da intimidade de uma mulher mulçumana, coisa raríssima nesse tipo de literatura.
Manual de civilidade destinado às meninas para uso nas escolas – Pierre Louys: Escrito para ser uma paródia, este livro ataca de forma destruidora o puritanismo burguês, chegando mesmo a ser chulo e grosseiro algumas vezes, mas sempre divertido. Escrito em 1917, mas só publicado dez anos depois, inclusive também após a morte de Louys, continua sendo um clássico da devassidão.
Os 120 dias de Sodoma – O Marquês de Sade conseguiu a façanha de transformar seu próprio nome em uma parafilia sexual: o sadismo. E esta é a obra que fez com que isso acontecesse. Goste ou não goste de seus exageros, não se pode negar de que é uma obra seminal... em todos os sentidos.   

     

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