Não é de hoje que anjos e demônios
chamam a atenção dos escritores. De Dante a William Peter Blatty, David Seltzer
e até Dan Brown, muitos dedicaram suas mentes criativas e talento para contar
histórias onde o protagonista não era outro se não o próprio Diabo. Um dos
registros mais antigos é o chamado “Martelo das feiticeiras”, o Malleus Maleficarum, escrito por dois inquisidores
dominicanos, Heinrich Kramer e James Sprenger.
Usado
como manual para identificar e caçar bruxas na Idade Média, o Malleus é também uma das obras mais
influentes na construção ocidental do demônio.
Escrito por volta de 1480, tem uma visão exagerada e preconceituosa das
mulheres, que seriam o canal através do qual o Diabo atingiria a humanidade.
Serviu de inspiração para muitos filmes, livros e peças de teatro.
Outras
obras que se dizem autênticas, ou seja, não são obras de ficção são “Reféns do
diabo”, de Malachi Martin e “Exorcismo: uma história verdadeira”, de Thomas B.
Allen. O primeiro, editado no final dos anos 70, é apresentado como uma
compilação de histórias reais de possessão demoníaca. Impressiona pelos
detalhes e, em muitos momentos, chega a ser didático na citação de rituais e
técnicas de investigação do mal. Para leitores persistentes e curiosos.
O
segundo é o relato do caso de um adolescente norte-americano que, depois da
morte de uma tia, vai ficando cada vez mais estranho até se confirmar a
possessão. O caso do comportamento anormal do menino é verdadeiro – até rendeu
matéria no Fantástico, pelo então repórter internacional Hélio Costa -, mas a
hipótese de possessão não é aceita por todos. Leitura impressionante, o livro
de Allen não é para pessoas fracas e que se assustam facilmente. O autor diz
que o Vaticano confirma a possessão em documento oficial com mais de 40
assinaturas.
Talvez
o mais famoso livro sobre o assunto seja “O exorcista”, de William Peter
Blatty. Diz a lenda que Blatty se inspirou no caso real, narrado anos depois
por Allen no já citado “Exorcismo”, apenas trocando a identidade do menino de
14 anos por uma menina de 12. Obra que vendeu milhões de exemplares no mundo
todo, “O exorcista” até hoje é um livro assustador, assim como o filme baseado
nele.
Outro
livro que virou um filme de sucesso é “A profecia”, de David Seltzer, contando
a história do nascimento do anticristo, que seria filho de um diplomata
norte-americano. Numa história de suspense e tensão crescentes, Seltzer cria
uma obra que também assusta, mais pelos detalhes e pela trama do que por sua
real possibilidade.
Há
pouco saíram por aqui as obras do casal Warren, Ed e Lorraine (aquele mesmo que
aparece nos filmes Invocação do Mal 1 e 2). Até agora são três livros: Demonologistas,
Lugar sombrio e Vidas eternas. Nenhum dos três muito empolgantes ou
convincentes.
“1977:
Enfield”, de Guy Lion Playfair é tido como o caso mais bem documentado de
poltergeist do mundo. Apesar de ter essa “classificação”, a suspeita cai mesmo
sobre o capeta. É mais um livro na conta do tinhoso!
Não
podemos deixar, é claro, de citar clássicos como “As possuídas do diabo”, de
Thomas Tryon, “O bebê de Rosemary”, de Ira Levin e “Os demônios de Loudun”, de
Aldous Huxley, todos bons livros para quem gosta do assunto. Mas, quando todo
mundo pensava que este filão estava encerrado, eis que surge Andrew Pyper e seu
“O demonologista”.
Editado
aqui no Brasil caprichosa e corajosamente pela Darkside, o livro de Pyper vem
bem recomendado e com uma carreira internacional invejável: Pyper ganhou o
prêmio de melhor romance do International Thriller Writers em 2014, concorrendo
com ninguém menos do que Stephen King; foi finalista do Shirley Jackson Award (2013)
e do Sunburst Award (2014); chegou ao topo da lista dos mais vendidos do jornal
canadense “Globe and Mail”, já teve sucesso em mais de uma dezena de países e
vai virar filme no ano que vem.
Conta
a história de David Ullman, um cético acadêmico especialista na obra do poeta
John Milton que, depois de receber um
misterioso convite para visitar Veneza, é obrigado a rever sua visão do Diabo
através da dor e do sofrimento. A promessa é a de ser uma leitura tensa e
apavorante. Só resta saber se vai entrar definitivamente para a lista de obras
fundamentais inspiradas no demônio ou será apenas mais uma tentativa frustrada
de se brincar com o Mal.
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