segunda-feira, 18 de maio de 2020

Sai, capeta!


Não é de hoje que anjos e demônios chamam a atenção dos escritores. De Dante a William Peter Blatty, David Seltzer e até Dan Brown, muitos dedicaram suas mentes criativas e talento para contar histórias onde o protagonista não era outro se não o próprio Diabo. Um dos registros mais antigos é o chamado “Martelo das feiticeiras”, o Malleus Maleficarum, escrito por dois inquisidores dominicanos, Heinrich Kramer e James Sprenger.
            Usado como manual para identificar e caçar bruxas na Idade Média, o Malleus é também uma das obras mais influentes na construção ocidental do demônio.  Escrito por volta de 1480, tem uma visão exagerada e preconceituosa das mulheres, que seriam o canal através do qual o Diabo atingiria a humanidade. Serviu de inspiração para muitos filmes, livros e peças de teatro.
            Outras obras que se dizem autênticas, ou seja, não são obras de ficção são “Reféns do diabo”, de Malachi Martin e “Exorcismo: uma história verdadeira”, de Thomas B. Allen. O primeiro, editado no final dos anos 70, é apresentado como uma compilação de histórias reais de possessão demoníaca. Impressiona pelos detalhes e, em muitos momentos, chega a ser didático na citação de rituais e técnicas de investigação do mal. Para leitores persistentes e curiosos.
            O segundo é o relato do caso de um adolescente norte-americano que, depois da morte de uma tia, vai ficando cada vez mais estranho até se confirmar a possessão. O caso do comportamento anormal do menino é verdadeiro – até rendeu matéria no Fantástico, pelo então repórter internacional Hélio Costa -, mas a hipótese de possessão não é aceita por todos. Leitura impressionante, o livro de Allen não é para pessoas fracas e que se assustam facilmente. O autor diz que o Vaticano confirma a possessão em documento oficial com mais de 40 assinaturas.
            Talvez o mais famoso livro sobre o assunto seja “O exorcista”, de William Peter Blatty. Diz a lenda que Blatty se inspirou no caso real, narrado anos depois por Allen no já citado “Exorcismo”, apenas trocando a identidade do menino de 14 anos por uma menina de 12. Obra que vendeu milhões de exemplares no mundo todo, “O exorcista” até hoje é um livro assustador, assim como o filme baseado nele.
            Outro livro que virou um filme de sucesso é “A profecia”, de David Seltzer, contando a história do nascimento do anticristo, que seria filho de um diplomata norte-americano. Numa história de suspense e tensão crescentes, Seltzer cria uma obra que também assusta, mais pelos detalhes e pela trama do que por sua real possibilidade.
            Há pouco saíram por aqui as obras do casal Warren, Ed e Lorraine (aquele mesmo que aparece nos filmes Invocação do Mal 1 e 2). Até agora são três livros: Demonologistas, Lugar sombrio e Vidas eternas. Nenhum dos três muito empolgantes ou convincentes.
            “1977: Enfield”, de Guy Lion Playfair é tido como o caso mais bem documentado de poltergeist do mundo. Apesar de ter essa “classificação”, a suspeita cai mesmo sobre o capeta. É mais um livro na conta do tinhoso!
            Não podemos deixar, é claro, de citar clássicos como “As possuídas do diabo”, de Thomas Tryon, “O bebê de Rosemary”, de Ira Levin e “Os demônios de Loudun”, de Aldous Huxley, todos bons livros para quem gosta do assunto. Mas, quando todo mundo pensava que este filão estava encerrado, eis que surge Andrew Pyper e seu “O demonologista”.
            Editado aqui no Brasil caprichosa e corajosamente pela Darkside, o livro de Pyper vem bem recomendado e com uma carreira internacional invejável: Pyper ganhou o prêmio de melhor romance do International Thriller Writers em 2014, concorrendo com ninguém menos do que Stephen King; foi finalista do Shirley Jackson Award (2013) e do Sunburst Award (2014); chegou ao topo da lista dos mais vendidos do jornal canadense “Globe and Mail”, já teve sucesso em mais de uma dezena de países e vai virar filme no ano que vem.
            Conta a história de David Ullman, um cético acadêmico especialista na obra do poeta John Milton que, depois de receber um misterioso convite para visitar Veneza, é obrigado a rever sua visão do Diabo através da dor e do sofrimento. A promessa é a de ser uma leitura tensa e apavorante. Só resta saber se vai entrar definitivamente para a lista de obras fundamentais inspiradas no demônio ou será apenas mais uma tentativa frustrada de se brincar com o Mal.

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