segunda-feira, 18 de maio de 2020

Auto-ajuda é masturbação!


De uns anos para cá, uma espécie curiosa de títulos inaugurou a chamada “literatura de autoajuda”, seja lá o que isso quer dizer. Falo de uns anos para cá, mas a verdade é que desde a década de 40 existem espertas tentativas de se ganhar dinheiro em cima de obviedades que poderiam ser constatadas com um mínimo de esforço mental.
Dale Carnegie, norte-americano do Missouri nascido em 1888, foi um dos primeiros espertalhões a descobrir que poderia ficar rico ensinando o óbvio para pessoas mentalmente preguiçosas.
“Como fazer amigos e influenciar pessoas”, escrito por ele em 1936, ainda hoje é um dos livros mais lidos no mundo, com mais de 50 milhões de exemplares vendidos em quase 40 idiomas diferentes. O que prova o tamanho da necessidade que a maioria das pessoas tem de alguém que as comande, mesmo em ações comuns e naturais como fazer amizades.  
No Brasil, Augusto Cury é o campeão do óbvio, com mais de 20 milhões de exemplares vendidos e pelo menos três ou quatro títulos na lista dos mais lidos neste gênero. Não contente em enriquecer graças à inoperância alheia, ele agora se diz o descobridor de síndromes e manias pós-modernas. Haja talento para uma só pessoa! Ganhar dinheiro, com certeza ele sabe, ninguém pode negar.
O negócio é tão lucrativo que tem monge budista (Manual de limpeza de um monge budista, de Keisuke Matsumoto); blogueira (Manual da mulher bem resolvida, de Taty Ferreira); padre (Philia, do Padre Marcelo Rossi); PhD (Foco, de Daniel Coleman) e, por incrível que pareça, até jornalista (O poder do hábito, de Charles Duhigg) querendo a sua fatia de bolo.
Nada mais normal numa sociedade capitalista. O ruim é que livro de autoajuda acaba servindo muito mais para ajudar o autor a ganhar dinheiro do que outra coisa. A única autoajuda válida e salutar, a meu ver, é a masturbação. O resto é manipulação mental, com joguinhos de técnicas misturadas com experiências pessoais, pitadas de filosofia de boteco e religião diluída em condescendência. Não dá para levar ao pé da letra e muito menos à sério.
Esses caras fazem aquilo que minha avó já dizia: “se conselho fosse bom a gente não dava, vendia!” Pois, eles fazem exatamente isso. Vendem conselhos rasos a preço de ouro. Lapidam obviedades grosseiras como gemas preciosas e empurram goela abaixo dos famintos por um alento, principalmente nestes dias tão difíceis.     
Talvez, o título mais honesto desse tipo de livro seja o atualmente esgotado “Ajuda-te a mim mesmo”, de Agamênon Mendes Pedreira, alter-ego da endiabrada turma do Casseta & Planeta. Este, pelo menos, a gente sabe que não se deve levar à sério... muito pelo contrário.

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