De uns anos para
cá, uma espécie curiosa de títulos inaugurou a chamada “literatura de
autoajuda”, seja lá o que isso quer dizer. Falo de uns anos para cá, mas a
verdade é que desde a década de 40 existem espertas tentativas de se ganhar
dinheiro em cima de obviedades que poderiam ser constatadas com um mínimo de
esforço mental.
Dale Carnegie,
norte-americano do Missouri nascido em 1888, foi um dos primeiros espertalhões
a descobrir que poderia ficar rico ensinando o óbvio para pessoas mentalmente
preguiçosas.
“Como fazer
amigos e influenciar pessoas”, escrito por ele em 1936, ainda hoje é um dos
livros mais lidos no mundo, com mais de 50 milhões de exemplares vendidos em
quase 40 idiomas diferentes. O que prova o tamanho da necessidade que a maioria
das pessoas tem de alguém que as comande, mesmo em ações comuns e naturais como
fazer amizades.
No Brasil,
Augusto Cury é o campeão do óbvio, com mais de 20 milhões de exemplares
vendidos e pelo menos três ou quatro títulos na lista dos mais lidos neste
gênero. Não contente em enriquecer graças à inoperância alheia, ele agora se
diz o descobridor de síndromes e manias pós-modernas. Haja talento para uma só
pessoa! Ganhar dinheiro, com certeza ele sabe, ninguém pode negar.
O negócio é tão
lucrativo que tem monge budista (Manual de limpeza de um monge budista, de
Keisuke Matsumoto); blogueira (Manual da mulher bem resolvida, de Taty
Ferreira); padre (Philia, do Padre Marcelo Rossi); PhD (Foco, de Daniel
Coleman) e, por incrível que pareça, até jornalista (O poder do hábito, de
Charles Duhigg) querendo a sua fatia de bolo.
Nada mais normal
numa sociedade capitalista. O ruim é que livro de autoajuda acaba servindo
muito mais para ajudar o autor a ganhar dinheiro do que outra coisa. A única
autoajuda válida e salutar, a meu ver, é a masturbação. O resto é manipulação
mental, com joguinhos de técnicas misturadas com experiências pessoais, pitadas
de filosofia de boteco e religião diluída em condescendência. Não dá para levar
ao pé da letra e muito menos à sério.
Esses caras
fazem aquilo que minha avó já dizia: “se conselho fosse bom a gente não dava,
vendia!” Pois, eles fazem exatamente isso. Vendem conselhos rasos a preço de
ouro. Lapidam obviedades grosseiras como gemas preciosas e empurram goela
abaixo dos famintos por um alento, principalmente nestes dias tão difíceis.
Talvez, o título
mais honesto desse tipo de livro seja o atualmente esgotado “Ajuda-te a mim
mesmo”, de Agamênon Mendes Pedreira, alter-ego da endiabrada turma do Casseta
& Planeta. Este, pelo menos, a gente sabe que não se deve levar à sério...
muito pelo contrário.
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